quinta-feira, 22 de março de 2012

Relato de parto... Tanta coisa aconteceu nesse tempinho na barriga!

Parto normal?
Sempre tive na minha cabeça que parto normal era o normal. Minha mãe teve os dois filhos de parto normal e não conseguia pensar que um parto saudável pudesse ser de outra forma. Moramos três anos e meio no Canadá e lá a prática era de parto normal, ou ainda o parto natural. Então fiquei muito surpresa em chegar aqui e ver que o parto normal estava sendo marginalizado, como se fosse uma coisa alternativa, ou para uma louca que queria sentir dor!
Uma amiga, Liza Polo, me adicionou numa lista de discussão sobre parto natural, mas logo na inscrição a Ana Cris, moderadora da lista, viu o nome do meu médico, meu ginecologista há 8 anos e me indicou: “Ele não faz. Nem normalzinho com intervenções”. Como assim? Eu tinha quase certeza que conhecia duas pessoas que tinham tido parto normal com ele.
Quando busquei saber, vi que elas haviam mudado de médico para o parto. E confirmei isso na consulta em que eu e o Paulinho, meu marido, começamos a perguntar sobre o parto. O cara era cesarista de carteirinha. Não era a toa que nunca havia desmarcado uma consulta em 8 anos! Ouvi cada absurdo! “Onde passa um cabo de vassoura tem que passar um melão. Você acha isso normal?”ou “Com 40 semanas tem que nascer! A placenta para de funcionar. Você come iogurte vencido?” Hein? O que era aquilo? Meu marido dialogou com ele, porque eu fiquei tão abismada que fiquei sem palavras. Naquele momento, com 12 semanas de gravidez, tive a certeza que mudaria de médico.
Busquei muito, conversei com amigas que tiveram parto natural antes de mim, li muito, e mudei de médico. Decidi me consultar com o Dr. Jorge Kuhn, por ver em tantos lugares sobre o seu respeito pelo parto natural, a mãe e o bebê. Logo na primeira consulta, sem pressa, e com muito aprendizado, tivemos certeza que tínhamos achado a pessoa certa para nos acompanhar.
Minha gravidez foi muito tranquila, sem enjoos ou problemas. Curti muito cada momento, li muito, frequentei grupo de gestantes da Casa Moara, fiz yoga, fisioterapia para o períneo. Estava tranquila e confiante que podia ter um parto natural.

À espera do grande dia
Com 38 semanas, numa manhã de segunda-feira, comecei a ter contrações bastante ritmadas que vinham de 3 em 3 minutos, durando cerca de 1 minuto. Mas não tinha dor nenhuma! Entrei no banho, e nada delas passarem! Pensei: será que serei uma das sortudas que não sentem dor alguma no trabalho de parto? Liguei para a Marília, minha doula, e expliquei o que estava acontecendo. Ela me disse para entrar no banho de novo, ficar mais tempo e ver se passava. Nada! Continuou! Ela me disse para então ligar para o Dr. Jorge. Ele me disse que provavelmente não era, para esperar e ver se passava. Isso durou mais ou menos 4 horas, mas elas passaram... Fiquei trabalhando em casa neste dia, mas estava um pouquinho decepcionada que ainda teria que esperar mais um pouco, mas no fundo o que pensei era como eu iria saber se era a hora? Se as contrações ritmadas são o sinal, qual seria o meu? Tive contrações ritmadas e nada!! Três dias depois, perdi o tampão, então achava que estava muito perto. Mas nada de o parto engrenar.
Ia para a aula de ioga, sempre conversávamos antes da aula sobre o que estávamos sentindo. Eu estava era com receio de não entender os sinais. A Pri me deu umas dicas de exercícios para fazer para encaixar mais o bebê, me preparar mais para o momento. E eu sempre fazia de tudo para ajudar ao máximo na minha hora.
Vira e mexe sentia uma coliquinha à noite e pensava se este seria o dia... Mas o dia vinha, passava, e nada do Lucas querer nascer! Passavam-se os dias, passavam as consultas, e nada de entrar em TP. Eu sempre tive certeza que o Lucas viria com 40 semanas ou mais... Mas não sabia que passaria tanto. Acho que ele quis provar para todo mundo que é normal e saudável um bebê depois das 40 semanas. Pois é, porque com mais de 40 semanas o problema não é a nossa ansiedade, e sim a ansiedade dos outros. Como adoram encher a nossa cabeça! Mas eu estava confiante em nós e na equipe, no acompanhamento do Dr. Jorge e sabia que o Lucas estava bem, e para mim isso era o que importava.
Passava meus finais de semana na casa dos meus pais, pois não aguentava mais ouvir as pessoas e seu espanto quando viam que o Lucas não tinha nascido. Era um saco e eu não queria que aquilo me contaminasse. Lá eu tinha paz, e nem um pouco de cobrança! Era muito bom para mim.
Levamos minha mãe no ultrassom de 40 semanas e também na consulta com o Dr. Jorge, e ela conheceu o Dr. Jorge e viu que o Lucas estava bem.Algumas pessoas ficaram muito ansiosas e ligavam para perguntar se sentia algo, ou dizendo que algo podia dar errado. Por isso, muitas vezes pedia para o meu marido atender... Não queria falar!!!Na consulta de 41 semanas, resolvemos levar a minha sogra na consulta com o Dr. Jorge, para que ela também pudesse conhecê-lo e ouvir que estava tudo OK também da boca do médico. Ela estava bastante ansiosa!
Engraçado era ir ao laboratório, passando de 40 semanas, e ver a reação das pessoas. Alguns se espantavam, como se aquilo fosse um absurdo. Outros ouviam o nome do Dr. Jorge, e respeitavam, pois ele sabe o que faz! E isso me dava ainda mais confiança!
Ia passar em consulta com Dr. Jorge na quarta-feira daquela semana. Chegou na segunda, mesmo com toda aquela confiança, me bateu uma tristeza e eu comecei a chorar na cama. O Paulinho me perguntou o que sentia, queria poder me ajudar. Eu disse que estava triste pois iria completar 41 semanas e naquela consulta o Dr. Jorge tinha sugerido descolar as membranas. Estava triste porque já teríamos que começar a intervir de alguma maneira. Porque estava acontecendo assim? Conversamos bastante e entendi que não fazia sentido aquela tristeza! Eu estava muito perto de conhecer meu filho! E de uma forma ou de outra ele iria indicar que queria sair!
Apesar disso, passei o dia todo meio borocochô. Conversei com a Pri e a Marília, as duas me dando dicas para chamar o parto, eu chorando. Fiz tudo, e nada acontecia.
Chegou a quarta e a consulta. Ainda bem que levamos minha sogra, pois, vindo de nós, ela não acreditaria... Eis que o Dr. Jorge faz a amnioscopia, para ver a cor do líquido amniótico. Ele olha e diz: “Mas esse bebê não tem 41 semanas de jeito nenhum! Tem 39, ou, no máximo, 40.” Meu marido fez uma cara de espanto e perguntou “como assim, Dr. Jorge?” Segundo ele, o líquido estava muito claro e com pouquíssimos grumos para estar de tanto tempo. Eu nunca tinha ouvido falar nisso! Mas depois li que inclusive a quantidade de grumos pode estar relacionada inclusive à maturidade pulmonar do bebê. E olhe que ironia! O artigo que citava isso foi escrito pela esposa do meu antigo ginecologista, aquele mesmo que tanto queria abrir e tirar o Lucas, provavelmente muito antes dele estar pronto! E o Dr. Jorge disse que não iria descolar membrana nenhuma, que não seria prudente dadas as condições do líquido. E parece que ele entendeu toda a ansiosidade da minha sogra. Explicou de novo coisas que já tinha explicado muito para nós, como que prevendo todas as questões que se passavam na cabeça dela. Eu e o Paulinho passamos a admirá-lo ainda mais!
Encontrei com a Drika na saída da consulta, que me disse para escrever uma carta para o Lucas, falando de todos os meus medos. Não achava que estava com medo, mas enfim, resolvi escrever. Cheguei em casa e escrevi. Para quem não sabia o que escrever, as palavras foram saindo e renderam quatro grandes páginas! Escrevi aos prantos, mentalizando que o Lucas saísse, que estávamos prontos para ele.
Mas os dias se passavam, e parecia uma eternidade. Arrumei todos os armários da casa. Saía em caminhada, até quase não mais aguentar o peso. Li e reli meu plano de parto, refiz a seleção de músicas para o parto. Bom, o jeito era esperar. Dormia pensando sempre se aquele seria o grande dia. E, o que eu não esperava era chegar na consulta de 42 semanas! E lá estava eu! Eu, Paulinho, Lucas e aquela imensa barriga! Era dia 20 de dezembro! Quase Natal, todos entrando em ritmo de festa, e eu nem queria saber de nada enquanto o Lucas não nascesse.
O Dr. Jorge fez o exame de toque. Naquele ponto, já não tinha problema acelerar um pouco. Eu estava com 3 cm. E ele, sempre muito tranquilo, dizia que o Lucas estava bem próximo de vir, que nem deveria marcar a consulta das 43 semanas (ai, já pensou? 43 semanas! E seria justo a semana entre o Natal e Ano Novo! O Paulinho já tinha apelidado o Lucas de “Pequeno Messias”! Rimos muito com isso. O Paulinho tem um dom de me fazer rir em qualquer momento. Que bom que era ele estar quebrando o gelo de todos nós àquela altura! Eu o amava ainda mais a cada dia que passava.).
O Paulinho vinha adiando o início das suas férias, pois queria aproveitar o máximo de tempo com o Lucas. Mas naquela noite me disse: “vou mergulhar nessa também. Vou entrar de férias amanhã, e aguardar a chegada do Lucas do seu lado. Também preciso me entregar para isso.” Acho que o Lucas estava esperando o papai se entregar também!

o grande dia
No dia seguinte, eu tinha ultrassom, cardiotoco e perfil biofísico fetal, para ver se o Lucas continuava bem. Estava no exame, a médica dizendo a cada etapa que o Lucas estava ótimo, e que não tinha nada que indicasse que teríamos que apressar o tempinho dele. Ela disse que poderíamos ficar tranquilos para esperar o tempinho dele. Durante o exame de cardiotoco, comecei a sentir cólicas. Contei para o Paulinho e disse:”É hoje! O Lucas tá chegando!” E as cólicas vinham, ritmadas. Começaram mais ou menos às 11:30 h da manhã. Cheguei em casa e fui direto para o chuveiro, pois era isso que a Marília tinha me indicado quando senti as contrações de TP falso. Fiquei lá e nada delas passarem. Já estavam super ritmadas e pouco espaçadas. Ia indicando do chuveiro para o Paulinho ir marcando no aplicativo de contrações. Enquanto isso, ele terminava de arrumar nossa malinha e as últimas coisas para o hospital. As contrações só ficavam mais doloridas e não espaçavam. Vinham como cólica bem forte, que vinha, apertava, e passava. Vinham a cada 3 minutos, durando 1 minuto. Pensei que se continuassem assim, estava beleza! Ligamos para a Marília. Ela me disse que estava num hospital, mas que iria para a casa arrumar as coisas e depois viria para cá. Eu disse para o Paulinho que era melhor irmos, já que eu não sei se aguentaria ficar num carro, em ruas esburacadas com as contrações tão pouco espaçadas. Ia ficar muito desconfortável. Falamos para a Marília e ela me disse para ligar para o Dr. Jorge e avisar. Eu já estava ali no chuveiro há um tempão. E Dr.Jorge perguntou como estava me sentindo e disse para ligar para a Marília de novo e pedir para ela passar para me ver antes de ir para casa. Ele já estava no hospital num outro parto e nos encontraria lá. Ligamos e marcamos de nos encontrar direto no hospital. Seria o tempo de eu me trocar, e já iríamos para lá.
No caminho, parecia que estava dentro de um sonho. Não acreditava que o momento tinha chegado! Como esperamos por ele! As dores vinham, mas eu estava feliz com elas. Chegando no hospital, logo vi a Marília, com aquele sorriso tranquilo! Isso me deu uma alegria e também uma tranquilidade! Estava correndo tudo bem! Era mais ou menos 16:30 h. A Marília foi comigo à sala de triagem, enquanto o Paulinho preenchia a internação. Como é bom ter alguém preparado com você. Ela me ajudou, colocou uma essência de lavanda na tomada para tornar o ambiente mais gostoso, segurou na minha mão enquanto o Paulinho não podia. A enfermeira veio fazer o toque. Uma mão pesada, me dizia que meu colo estava escapando quando ela tentava medir. Aquilo piorou muito as dores. No fundo fiquei pensando “Por favor, fale que estou com bastante dilatação!!!” e fiquei muito feliz quando ela disse que já estava com 6 cm. Logo também me disse que não poderíamos sair dali porque não havia nenhuma sala de pré-parto e parto. Nada disponível!! Já pensou em ter que parir ali, na sala de triagem? Tudo graças às cesáreas eletivas, devido à proximidade do Natal. Ai, gente, me poupem nessa hora, por favor!!!
Ficamos ali, eu, o Paulinho e a Marília, até liberarem a suíte de pré-parto. As duas delivery estavam ocupadas. Quando liberaram, saímos. Meus pais já estavam no saguão do hospital. Chorei muito ao vê-los, e eles também! O Lucas estava chegando e a nossa felicidade era imensa. Fiquei muito feliz de saber que eles estavam ali.
Subimos no elevador, cheio de gente, e eu com as contrações, fiz o povo esperar. Não estava nem aí! Entrei na área restrita, a Marília e o Paulinho iam se vestir com as roupas do hospital, e o Dr. Jorge veio me receber. Mais um sorriso tranquilo que me deu tranquilidade. Estava sorrindo tanto, e tão feliz, que ele me disse que eu estava muito lúcida, que queria ver a hora que eu entrasse dentro de mim e parasse de sorrir. Bom, isso não aconteceu. Eu me concentrava muito nas contrações, mas entre elas, sorria e conversava normalmente.
Entramos na sala de pré-parto quando o Paulinho e a Marília chegaram. Lá só tinha um chuveiro e ficaríamos ali até liberarem a sala Delivery, que tinha a banheira e os aparatos para parto natural. Eu não estava nem aí, na verdade. Estava mais era querendo que o Lucas nascesse. E naquele momento poderia ser naquela sala mesmo. O Paulinho entrou comigo no chuveiro, me fazia carinho, me abraçava quando vinham as contrações. Nossa mochila encharcou, nosso tablet com as músicas estava sem bateria, e naquele momento eu fui deixando para lá tudo o que tinha no meu plano de parto. Não queria saber de detalhe nenhum, só estava indo com o ritmo das coisas. A Marília colocou a música que ela tinha trazido, deixou o ambiente escurinho, ficava conosco, quando não estava com um rodo tentando drenar a água que corria para o quarto! Santa Marília. Enquanto o Paulinho me fazia carinho, eu comecei a vocalizar bastante durante as contrações. Elas vinham, eu soltava um som que parecia que vinha do fundo da minha alma, um gemido misturado com um canto. A Marília gemia comigo, e isso me ajudava muito. Cada vez mais os gemidos ficavam mais altos. Em um momento soltei um “Aaaaaaaaaaaiiiiiiiiiii”. A Marília me disse que o “i” era medo, para eu pensar no que me dava medo. Não conseguia pensar em nada, então tentei me concentrar e ver se precisava realmente daquele “i”. Não tenho idéia de quanto tempo ficamos ali, mas sei que ainda estava claro quando falaram que já podíamos ir para a Delivery.
Chegando na Delivery 1, pedi logo para entrar na banheira. Não queria sair da água. Continuava naquela entoação a cada contração. Elas estavam ainda mais fortes, mas assim como elas vinham, sabia que iam embora, então estava tranquila. Com o aumento das dores, eu agarrava nas alças da banheira e mergulhava nela, jogando muita água para fora. O Paulinho me fazia carinho nas costas, a Marília nas minhas pernas, que eu joguei para as laterais da banheira para ficar mergulhada. Não pensava em comer nada, só queria beber água. A contração vinha, eu entoava o “Aaaaa” e mergulhava. A Marília me lembrava: “Ju, elas são as ondas, mas você é o mar!”. Lembro que perguntei para a Marília se faltava muito, já que ainda não sentia a necessidade de pedir anestesia e ao mesmo tempo estava ficando cansada. Vi que já era noite na janela do hospital. Pensei que deveria ser passada das 20 h. Ela chamou o Dr. Jorge. Ele me pediu para virar na banheira para ele examinar. Ai, o que eu não queria era me mexer. As contrações estavam tão próximas que não tinha tanto tempo para manobras na banheira... Mas virei. Ele fez o toque e disse: “Jú, você já está com dilatação completa! A sua bolsa tá integra, então na próxima faz força que eu vou rompê-la.” Disse que o Lucas estava aqui mas não devia estar descendo por causa da bolsa. Aí é que o bicho pegou. Para mim foi a parte mais dolorida! O expulsivo, que todo mundo dizia que aliviava as dores. Lembrei do relato da Carla, em que ela falou que o expulsivo para ela foi mais dolorido. O meu também estava. E a bolsa sendo rompida, então! Meu Deus! Como pioraram as dores! Quando rompeu o Dr. Jorge disse: “Ju! O líquido está clarinho!” Nada de mecônio! Que bom! O Paulinho confirmou: “É, Jú! O líquido tá clarinho!” Aquilo me deixou ainda mais feliz!Fiquei um tempão deitada na banheira fazendo força para o expulsivo. Pedi um sorvete. Estava com muita sede e muito calor, mesmo na banheira. O Dr. Jorge chegou: “tem sorvete de uva e de uva, qual vc quer?” Eu ainda tinha forças para rir! Então, tomei sorvete de uva, enquanto esperava para empurrar na próxima contração. Como aquele sorvete estava bom! Dali um pouco, chega uma anestesista na porta da sala. Agora não! Já passou da hora, e não quero saber de anestesia!!!
A cada etapa, o Dr. Jorge ia me lembrando das nossas conversas, me perguntando se eu sabia o que vinha depois. Nos dava mais uma aula, agora prática, ali durante o parto. Ele me indicou para mudar de posição, para ver se ajudava o Lucas a descer. Fiquei ajoelhada na banheira. Ele me disse que o Lucas tava ali, para colocar a mão para senti-lo. Nossa! Que emoção sentir aquele cabelinho! Aquela pele, aquele cabelinho. Comecei a chorar e renovei as forças para empurrar. Queria empurrar nas contrações, entre as contrações. Queria tanto conhecê-lo! O Dr. Jorge me indicou aonde canalizar a força e a Dra. Andrea me indicou a maneira como eu devia fazer a força. Como mergulhar, respira fundo, prende, faz força. Mais uma vez, depois respira várias vezes curtinho, prende, faz maisforça. Foça no diafragma. A cada empurrão, parava para sentir o cabelinho. Ele estava descendo! Cada vez mais perto! E isso me dava cada vez mais força. Eu chamava por ele a cada contração: “vem Lucaaaaaaas!”. O Dr. Jorge me perguntou se eu estava com algum medo. “Nenhum!”, eu disse.
Não tinha idéia de quanto tempo tinha passado. Depois fiquei sabendo que foi mais ou menos uma hora e meia desde a hora que o Dr. Jorge rompeu a bolsa. Comecei a sentir arder e disse “tá ardendo, tá ardendo, tá ardendo!”, enquanto o Lucas descia e eu o senti coroando. Na próxima contração, ele saiu mais um pouco. O queixinho dele tinha ficado preso na anterior. Mais uma contração e ele saiu. Nunca senti uma emoçaão tão grande na minha vida! Eu estava ali, vivendo o meu parto, ao lado do meu marido, e meu filho estava vindo diretamente para os meus braços! Que sensação gostosa, sentir a pele molinha dele. Ele estava um pouco molinho, mas logo começou a chorar. Coloquei ele sobre o meu peito e o Paulinho, atrás de mim, também pode sentí-lo ali, logo após seu nascimento. Estávamos em êxtase. Não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo! Bem vindo, meu filho querido!
O Dr. Douglas ali, colocou paninhos para esquentar as costinhas do Lucas e jogava água em suas costinhas. As dores passaram como mágica assim que o Lucas saiu. Nasceu às 22:02 h e `as 22:35h j’a estava mamando, fazendo o barulhinho mais gostoso que já tinha ouvido na minha vida.
Enquanto esperávamos a placenta sair, o Lucas foi pesado: 4,080 Kg!! Tive que sair da banheira, pois havia muito sangue. Mas estava bem. Tomei ocitocina na veia para ajudar a placenta a sair, já que estava demorando. Tive ruptura do seio marginal da placenta, por isso o sangue perdido, mas tudo estava bem. Períneo íntegro, apenas lacerações superficiais, mas sem necessidade de pontos.
Enquanto esperávamos o quarto ser liberado, a nossa família foi entrando, um a um. A primeira foi minha mãe. Queríamos muito dividir aquela alegria com eles! Que bebê querido e esperado.
Depois, descemos para o quarto, e eu e o Paulinho mal conseguíamos dormir. Queríamos ficar admirando nosso filho, aquela coisinha mais preciosa que consagrava nosso amor. Ficamos horas e horas acordados, só olhando para ele.
Quero agradecer à equipe maravilhosa que me acompanhou. Ao Dr. Jorge, por ser esta pessoa iluminada, que nos dá a tranquilidade e confiança que precisamos nesta luta por um parto digno. À Marília, por estar ali nos apoiando, e me ajudando a “entrar” no parto. À Dra. Andrea, pelo auxílio durante o parto. Ao Dr. Douglas, por receber o Lucas com tanto carinho, com que cuida dele até hoje.
Agradeço também ao preparo que recebi com a yoga, com a Pri Cavalcanti, a fisioterapia com a Dra. Miriam, aos relatos que li, às discussões da lista, aos encontros de gestantes na Casa Moara, às minhas amigas Liza Polo e Mariana Zuquim, que passaram aqui por essa luta pelo parto natural antes de mim. As conversas e experiências fizeram uma grande diferença no meu parto.
Agradeço também aos meus pais, por me apoiarem na escolha e pelo exemplo, pelo parto e formação maravilhosos que tive.
Um agradecimento especial ao meu marido, por estar ao meu lado durante todo o percurso, e por ter me dado o maior presente que eu já recebi na minha vida! E ao Lucas, por me fazer querer ser uma pessoa melhor a cada dia, desde que me descobri grávida.

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